Wednesday, January 27, 2016

o outro é o sítio onde nos encontramos (...) o outro é uma necessidade geográfica.


Jorge Molder, As Horas Extraordinárias

gardenia

Saturday, January 23, 2016

get out, get out, get out

das noites insones


Em ti existo enquanto personagem. Uma imagem criada pelo teu olhar inconstante, sem raízes no que disse ou escrevi, uma ideia de mim que interpretaste sem ver de facto. Não passaste da superfície, olhando-me com a retina deturpada dos fantasmas do passado que manietam e presumem o futuro. Talvez até tenhas tentado... e te tenhas distraído com o ruído dos teus próprios medos, ou pior, o ruído ensurdecedor das tuas certezas adquiridas no bingo do senso comum. Uma personagem cujo desassossego te prendia a atenção por segundos, o tempo de dizer "revejo-me em ti", nunca o tempo suficiente para olhar e ver que, afinal, um universo inteiro dentro. Nunca tempo bastante para ver que à tua frente tinhas gente e não uma entidade fictícia. Pele e sangue, não uma descrição de pele e sangue.


do incompreensível

["uma pessoa podia ficar presa nesse olhar", nunca percebi... ficou-me gravada a surpresa na tua voz, é tudo.]

Wednesday, January 20, 2016

estarei aqui ainda ou não existo mais porque a chuva acabou (...) não contava que o mundo se evaporasse assim.


António Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
[daqui]

"on the road you didn't say a word for hours to fit the mood, to fit the mood"


It sends a chill through me when you look at the stars and say:
"You all are behaving like your blood is the same as my blood." 
But you let the world stop trying 
and you let the world stop trying 
you let the world give up 
and my blood runs against that kind of blood 

Nobody tries that hard anymore 
Nobody tries that hard anymore 
Nobody tries that hard anymore 
Nobody tries that hard anymore 
Anymore



Jason Molina [*]

Thursday, January 14, 2016

das pessoas que não se enganam e raramente têm dúvidas

"vamo-nos fazer mal" dizias tu, nunca um... "tenho receio que nos magoemos".
Como se tardasse em acontecer arregaçaste as mangas e não deixaste créditos por mãos alheias.




Nothing is better
Nothing is best.
We are unhappy
We are unblessed.
We are unfound.
We are unseen.
Nothing is coming.
Nothing is clean.
Earth it is shaking, people fled
and lord she is taking the eyes from the dead.
Demonised body, exorcised mind
pieces of kindness exchanged in kind.
Nothing is better.
Nothing is best.
We are unhappy.
We are unblessed.
Mind it is going.
Faith is destroyed.
It's emptiness showing god's cruelty deployed.
Lovers have left.
Friends close their eyes.
Children bereft.
We all are unwise.
Nothing is better.
Nothing is best.
We are unhappy.
We are unblessed.
We are unhappy.


Bonnie 'Prince' Billy

Wednesday, January 13, 2016


Steel on the skyline 
Sky made of glass 
Made for a real world 
All things must pass

Waiting for something 
Looking for someone 
Is there no reason? 
Have I stared too long?

You say you'll leave me
And when the sun is low
And the rays high 
I can see it now 
I can feel it die 

David Bowie [*]

Tuesday, January 12, 2016

I've looked long, I've looked far
To bring peace to my black and empty heart


Polly Jean Harvey [*]

Sunday, January 10, 2016

dificilmente a casa que se recompôs após a tempestade resistirá, de pé, ao silêncio da ausência.

Friday, January 08, 2016



[Well, take a breath, my heart, and hold your tongue 
It's just a cog in the year of all my love 
All my love]

manifesto

ignorar os enigmáticos; os poetas; os que sentem a música sem sentir o outro; os que olham sem ver; os egocêntricos.

Thursday, January 07, 2016

- Acabou a sua conferência com uma ideia muito perturbadora: a de que "tudo terminará numa única partícula, a solidão extrema".

- É mau, não é, a morte por solidão?


Gerry Gilmore, Visão nº 1192

Wednesday, January 06, 2016

[mais um dia de espera nesta existência pastosa de antecipação. 
foges como um louco e sou eu quem tem as mãos a arder.]


Tuesday, January 05, 2016

Não me encontra o que é fresco. Não me chega o ódio e a raiva animal. Perturba-me apenas o que morre na garganta, incendiando o resto do corpo.


O sono que não chega. Ou então vem carregado de ti. Tu disfarçado de outros, manténs apenas o sorriso impassível que te denuncia. Tu que já não existes e ainda ocupas espaço.


[19/09/14]

an imaginary girl, a fiction




Swing pretty girl
Swing
It ain't real anyway
Fields so blue
All drenched in red
Clouds up in the sun
I feel so dead

David Lynch

Sunday, January 03, 2016

relatório clínico

Não é mais que um músculo frouxo, desgastado pelo uso inconsequente. Disforme.
Foi passando de mão em mão na promessa de que o seu uso seria honesto, digno de um sonhador que aproveita cada momento. Correu ultramaratonas enredado em silêncios e equívocos. Quase sempre campeão da invisibilidade.
Anos de abuso fazem com que conheça bem os cuidados intensivos. A cada novo internamento a promessa de uma técnica inovadora. Sugerem-se novos ensaios clínicos... os níveis de toxicidade altíssimos em troca do alívio temporário.
Começa agora a fase do delírio. Pouco restará em breve.

Saturday, January 02, 2016

e porque vou escurecendo tanta noite cá dentro


António Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?


Friday, January 01, 2016

note to self

Merteuil - Não voltareis a inflamar o meu coração. Nem mais uma vez. Nunca mais.


Heiner Müller