Saturday, November 19, 2016

"leaving nothing behind"

[Not quite right, not quite fun, not quite interesting, not quite drunk, not quite visible, not quite alive. Moderadamente útil, moderadamente a jeito. 
Fuck you universo! Nada te basta para pagar a estadia.]


Wednesday, November 02, 2016




"há audácias que aparam o teu gesto, as poeiras que levantam as palavras"

Sunday, October 23, 2016


[sangro em frases curtas no silêncio sufocante da distância, da solidão. em tempos os cortes , agora a agonia. não acaba nunca esta luta dentro da pele.]


Thursday, October 20, 2016

num assomo, de olhos postos no sofá e no eléctrico nocturno que decora a parede, percebo, finalmente, ser orfã de pais vivos, ou de colo que nunca chegou a ser. 
maracujá nascido e caído da figueira. a mesma que, ao fundo do quintal, tomba milímetros a cada ano que passa e só lembra o passado.

Saturday, October 15, 2016

Corri bastante mundo e aprendi que todos os sangues são bons e iguais, mas é por isso que a certa altura nos cansamos e procuramos criar raízes, arranjar uma terra, para que o nosso sangue valha e dure algo mais do que uma vulgar mudança de estação.



Cesare Pavese, A Lua e as Fogueiras​

Wednesday, October 05, 2016

shhhh...


[o cansaço da espera, do relatório detalhado, o cansaço da noite, do silêncio. da ausência de uma mão no ombro que o envolva num abraço, da solidão, da invisibilidade. cansaço da repetição, da tentativa, da ingenuidade para não enlouquecer. o cansaço de nunca descolar dos aeroportos. o cansaço do ontem, do hoje, sem nada que faça prever que o amanhã seja diferente.]

Sunday, October 02, 2016

Saturday, October 01, 2016

slow dance in her dreams

o silêncio alojado no espaço de um palmo que vai do externo à traqueia, é denso o filho da puta. escuro. engorda sugando a banalidade dos dias. a respiração superficial ajuda a lembrar como cresceu, o cabrão. a árvore frondosa do alheamento cresce rapidamente no substrato infértil de mim. 


Tuesday, September 27, 2016


[o corpo lateja, dos pulsos aos dedos, e destes às vértebras.]


Monday, September 26, 2016

"perhaps my brains are old and scrambled"


I can't see the lines
I used to think I could read between
Perhaps my brains have turned to sand


Brian Eno [*]

Thursday, September 22, 2016

mostly I never knew which way was out
once it was on, it was on and that was that


Nick Cave

Sunday, September 18, 2016


em mim nada secou 
não possuo a morte no coração, mas sim um pouco de chuva que lentamente apaga o fogo doutros dias mais simples 
escuto o lamento das águas e sei que tudo continua vivo no fundo do mar... e no coração persistente das plantas


Al Berto, O Medo, pág. 159

Saturday, September 17, 2016


e as aves? frágeis quando aperta a tempestade... migraram como eu? 
(...) 
estremecem-me nas mãos os insectos cortantes do medo, em meu peito doído ergue-se esta raiva dos mares-de-leva


Al Berto, O Medo, pág. 155

Friday, September 16, 2016

as mãos, os pés calçados de lua, olhos inchados 
ele caminha 
vinho, bebe vinho como os deuses 
esquece os corpos que o povoam, ouve vozes 
pressentem-se vozes 
a cidade existe em ti, mas ele tocou outros frios 
outros marulhares, o vento cortante doutras ruas 
um insecto luminoso, um eco 
folha de árvore arrastando-se na lama, cigarro que se extingue na humidade da memória doutros dias 
caminha, resta-lhe perder a memória  
esvaziar-se



Al Berto, O Medo, págs 117-118

Thursday, September 15, 2016

so faraway and yet so close


s.

Kiss so softly the mouths of the ones you love, 
beneath the September moon and the heavens above. 
And the world will turn without you, 
and history will soon forget about you


Nick Cave

Friday, September 09, 2016





I saw you standing there in the supermarket
with your red dress falling, your eyes are to the ground
nothing really matters 

Tuesday, August 23, 2016


Não me posso impedir de acreditar mesmo quando o olhar vai ficando vazio e a cabeça leve. O corpo frágil é nada quando sentimos o tanto que é.

Monday, August 15, 2016

chega-me, bem nutrido, um vazio vindo de longe. banalidades como jóias, tomadas por diálogo. repetição como exercício de normalidade.


Friday, August 12, 2016

à noite, no verão, de luz apagada, ouvia o mar na cama: a mesma onda sempre, ainda hoje a mesma onda a trazer a praia e a levar a praia e, ao levar a praia, eu suspenso do nada sem tocar nos lençóis.



António Lobo Antunes, Visão nº 1223

Wednesday, August 03, 2016




(...)

what the horizon only tells to us ghost
is that when its quiet in our heart
we become the diesel

we become the smoke
we become the prarie
we become spark
and the only song coming in on the radio
the only song coming in on the radio

well you take that map of the falling sky
and you lay it across your heart
and the lonliness between us is right where you are
and the lonliness between us is right where you are


Jason Molina

Tuesday, August 02, 2016

e o piano do coração aos trambolhões na escada rasgando cordas de veias (...) nunca vi uma pessoa ocupar tão pouco espaço como ele nessa tarde à medida que fragmentos indecisos principiavam a unir-se em mim, membranas transparentes e essa espécie de lágrimas que nos acompanham toda a vida, algumas vezes nas pálpebras mas a maior parte do tempo ocultas de nós, numa das pregas de desconsolo de que somos feitos, se conseguisse contar-vos, e não consigo, o que nos rói sem sabermos, o que custa sem darmos fé omitindo os segredos estrangulados e as misérias conscientes, tanta boneca falecida, tantos olhos só nossos que nos censuram 



António Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?

aqui há também uma coisa muito parecida com um idiota, que é um homem bom.


Pedro Mexia sobre o filme Um Homem Sério (Nov. 2015)

the fact that he sings so much about the heart, and about being filled with stuff, you know... sometimes dead stuff (...) his heart was open, always, and that sometime served him, and sometimes it meant that he felt everything.



[The Sad & Beautiful World of Sparklehorse - Bobby Dass, Alex Crowton]

Monday, August 01, 2016

das ausências


repetiste tantas vezes que nos íamos magoar mas não foste capaz de o assumir enquanto preparavas esta fuga. faltou-te a coragem para dizer não quero estar contigo ou desculpa, não consigo. não sei como olhar para a caricatura em que te transformaste, a naturalidade com que vestes o papel não me deixa continuar a olhar-te nos olhos.
só porque tenho muito amor para dar isso não te dá o direito de tirar quando precisas e alimentares a ilusão de que te preocupas. terás tu consciência do que tem doído arrancar-te assim dos dias?

Sunday, July 31, 2016

a janela em cima a iluminar um gato que nos ilumina a nós com as lamparinas dos olhos, há alturas no escuro em que só os gatos se acendem, que fazem eles no livro, de que região da infância veio este encher a página de sumaúma e silêncio



António Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?

Sunday, July 24, 2016




(And in the midst of all the awkwardness, all my growing pains, somehow the wonder of life always remains)

O Júlio Pomar disse-me sempre em alturas difíceis da minha vida
- Aguenta-te
que de facto é a única coisa que se pode dizer.
E eu tento aguentar, fingir que aguento quando sinto que me desmorono dentro de mim. Há sempre uma parede ou outra, ou um bocado de parede, que resiste e encosto-me a ela pensando
- Quando é que irá cair, quando é que irá cair?
Talvez caia, talvez não. E, se não cai, conseguiremos levantar tudo o resto? Ou uma parte do resto? Ou um resto do resto? Amanhar uma espécie de tecto? Ou sentar-me no chão, ao lado das pedras, sem olhar para elas? Sentir que me desmoronei também, me tornei uma ruína igualmente?
(...)
- Aguenta-te
comigo a tentar agrupar-me, juntar-me todo, defender-me, proteger o que sou, o que teima em existir de mim e não sei se me pertence ou está para ali como um velho retrato desfocado, do qual se não distinguem bem as feições. Torno-me uma pequenina coisa informe algures no meu corpo, torno-me um pingo de nada em silêncio, porém um silêncio que grita embora nem eu mesmo o oiça. Apercebo-me que grita apenas porque os meus ossos vibram, reduzidos a fios.


António Lobo Antunes, Visão nº 1220

Hey you bastards I'm still here

Wednesday, July 20, 2016



remendos de pele a conter o oceano,
                             apenas remendos de pele para conter o oceano.


Wednesday, July 06, 2016

Thursday, June 30, 2016

if only there would be enough doubt all forces would be suspendend, but there's never enough doubt.


Blixa Bargeld [*]
Hope should be a controlled substance, hope should be a controlled substance, hope should be a controlled substance.


Blixa Bargeld [*]

Saturday, June 25, 2016

366, para que s volte a ser de stranger

Chegaste atrasado, tiraste a roupa, falavas sobre os planos, os imprevistos, o que esperavam de ti. À medida que a noite ganhava corpo, a sombra abraçou-te, sedutora. Deixaste que a rotina do passado se instalasse confortavelmente aos comandos do frágil planador e nos despenhasse contra o solo. 
Durante a vertigem chamaste novamente por ela. Irritaste-te contigo por isso mesmo. Em segundos agarraste-te à versão pouco plausível de que "S" era também de "Stranger". Quando "S" é de fantasma. Numa noite mais quente que a de hoje incendiaste o pouco que construímos. E o fogo, purificador, não deixou nada.

Wednesday, June 22, 2016

lonely lonely




(Distance makes the heart grow weak
So that the mouth can barely speak)

Monday, June 20, 2016




and sometimes when the night is slow,
the wretched and the meek,
we gather up our hearts and go,
a thousand kisses deep

the ponies run, the girls are young,
the odds are there to beat . . .


Leonard Cohen




Habitam a noite. São criaturas pacientes, persistentes, insidiosas até. Profundamente desestabilizadoras obrigando à insónia, à agonia.



Friday, June 17, 2016

there are wolves here abound*


[O teu velório tem sido público mas eu posso jurar que tu ainda não te sabes cadáver. Estou certa que vagueias pela noite à procura de outra imagem de ti, confuso por chegar sempre ao ponto de partida, vazio do constante rodopio. 
O corpo, imóvel, não espera nada, observa apenas a natureza imutável do teu medo de ser, de sentir. Sinto o movimento a nascer, o ombro num gesto imperceptível, contrário aos pés. A luz muda, o frio do rio lembra que é hora de voltar a casa e eu dou-me mais uns minutos, três, cinco, não mais que isso. Concedo, talvez um pouco mais, até que a humidade se cole na pele, até que mesmo de casaco vestido comece a tremer. 
Como posso não olhar? não tarda chegarão impecavelmente vestidos para juntar as flores, baixar a tampa, e tu deixarás de ser real. Quando me cruzar contigo sentirei o arrepio mas já não pertencerás a este mundo. Ficarás reduzido a essa sensação gelada de vazio. Não é triste que se tenha tornado tão previsível? Não é triste que se morra a cada tentativa? Já sinto os salpicos, estou quase a ir...]


*

Wednesday, June 15, 2016

6!











youme knows what meyou wants, 
meyou knows what youme wants, 
and it's granted
they defend each other against the past
if the future isn't bright at least it's colourful
so burn the ship come spring 






Tuesday, June 14, 2016

to all the men whom I have loved

How to walk and where to run 
How to walk and where to run 
I see you kissing in other peoples arms 
See you kissing in cheap bars 
How to walk and where to run 
How to walk and where to run 
I see you kissing oblivious 
Loving only your pain 
I'm walking in oblivion 
Walking in oblivion 
I walk with a childs face 
Remembering our days 
Walking in oblivion 
Walking in oblivion 
It's gotta give, it's gotta change 
Today is the day 

To all the men who I've loved 
To all the men who I've loved 
Something to free your angry hearts 
I'm opening up my arms 
To all the men whom I have loved 
To all the men whom I have loved 
Speak of the fear inside 
It's time to change, there still is time 
Do you remember walking? 
Do you remember watching? 
Our faces in the falling hearts of children 
To all the men whom I have loved 
To all the men whom I have loved 
I dedicate my song saying 
Today is the day 
Today is the day 

So we fall 
And we fall again 
And I have come 
To tell you today 
That I loved you 
There's still time to say 
We're falling hearts of our children 

Through hating and loving 
Through lucking and nothing 
Through all manner of sorrows 
That I have spoken 
I open up my tender heart 
I open up my tender heart 
To all the men whom I have loved 
All of those who I adored 
But I remember something 
I remember walking 
When my heart was frozen 
With that feeling 
It's gotta give, it's gotta change 
It's gotta give, it's gotta change 
Turning round and round saying 
Today is the day 
Today is the day 

So we fall 
And we fall again 
And I have come 
To tell you today 
That I loved you 
There's still time to say 
We're falling hearts of our children 

Falling 
Falling 
Falling 
Falling 
Falling


Polly Jean Harvey [aqui]

"got these sparrows in my fist"*






*Jim Yamouridis

Monday, June 13, 2016

"se nisto, pumba, vos perdesse?"

Que ideia mais parva termos crescido. Aprender a andar de bicicleta, aprender a jogar ténis, perseguir lagartixas no muro e como tudo isto gela em nós um bloco de saudade. 

(...)

E acho que pela primeira vez na vida senti um cheiro a enxofre enquanto me apercebi confusamente que o mundo estava repleto de mistérios estranhos, ele que até então parecia tão simples, tão claro. 

(...)

Porque perdi tudo isto? Porque deixei que tudo isto se perdesse? Era tão rico nesse tempo, tão cheio de minhocas e de nuvens.

(...)

Ternuras da memória por favor não me abandonem: o que seria de mim se nisto, pumba, vos perdesse?



António Lobo Antunes, Visão nº 1214

Saturday, May 21, 2016

Deste conta que morreu?


Colei folhetos pelo bairro, julgam tê-la visto com outras pessoas, em jantaradas, na noite, mas a verdade é que não voltou a casa, não recebi telefonemas a dizer que a encontraram. 
Tenho adiado o funeral mas é talvez hora dos preparativos. Uma coisa simples, discreta. Afinal a ausência é tanta, o silêncio, já ninguém ficará surpreendido com o cadáver. Nem valerá a pena o epitáfio. Foi um nada, foi tão pouco memorável, parece ridículo gravar em granito "eterna saudade do que não chegou sequer a ser" ou "aqui jaz a credulidade de uma amizade". E de qualquer forma seria hipócrita dizer o quê sobre algo que "precisa de pretextos" para acontecer.
Talvez pudéssemos publicar o obituário para os mais distraídos nestes meses. Não mais que uma linha, uma mera formalidade: "comunicamos a extinção do que unia X a Y após ausência prolongada de interesse.". Pode ser publicada sem destaque, como sem destaque foi sempre. Sem cerimónias, como em vida.

Tuesday, May 17, 2016

And the tenderness I feel
Will send the dark underneath
Will I follow?


Beth Gibbons [*]

Sunday, May 15, 2016

(des)ilusões


(tivesse eu sabido e não me teria entregue a uma pessoa assim. muito menos na intimidade onde se despedaçam corações.)


Friday, May 13, 2016

das noites insones


[escrever-te por engano e dizer que pequenas hemorragias alimentam uma anedótica anemia de mim.
podia terminar assim esta noite. ou continuar o plúmbeo silêncio.]


S.

Tuesday, May 10, 2016

Well, they just always hold up something more than they're prepared to give.


Janis, Little Girl Blue

Monday, May 09, 2016





(Sit there, hmm, count your fingers.
What else, what else is there to do?)

Sunday, May 08, 2016

(no wonder why I feel so blue)

(e ele poisava a mão no ombro a desfazer-me os os ossos
- Meu cabrão, meu cabrão
eu, para ele
- Começo a ficar farto das tuas declarações de amor 
a desfazer-lhe os ossos também porque não gosto de ficar aleijado sozinho)



António Lobo Antunes, Visão nº 1209

Saturday, May 07, 2016

o pudor de estar ao lado do sofrimento, tocando-lhe sem lhe tocar, porque não é preciso mexer nas pessoas para gostar delas, nem mudar-lhes os traços e os gestos para as amarmos.



António Lobo Antunes, Visão nº 1209

Tuesday, May 03, 2016

Mas é um destroço, Farida. Aqui só há outroras, isto é água riscando fósforos.


Mia Couto

Thursday, April 21, 2016

No wonder why you've been buggering me
Cause this walk it's a previous journey
And no wonder why the road seem so long
Cause I have done it all before
And I won

I'm sending my condolence
I'm sending my condolence to fear
I'm sending my condolence
I'm sending my condolence to insecurities


Benjamin Clementine [*]

Friday, March 18, 2016


dias prenhes de inferno. o corpo em chamas. a passo lento perdemos tempo que não recuperaremos. perdemos também o orgulho, a energia. tornámo-nos apenas animais.


Tuesday, March 08, 2016


You changed, the world absorbed you... more and more. (...) I think you were afraid of going astray, I couldn't help you stay on the right path, your head was turned in the wrong direction. (...) You were sincere with the promisses you made. Still, they didn't come from your heart.


Nancy, Knight of Cups

blue valentines


why do I save all this madness here in the nightstand drawer
there to haunt upon my shoulders
baby I know 
I'd be luckier to walk around everywhere I go
with this blind and broken heart
that sleeps beneath my lapel


Tom Waits [*]

Monday, March 07, 2016


[Começas agora a desaparecer, se é que algum dia não foste mais que uma ilusão.

Vivo com a dúvida: qual de nós te apaga?]

Friday, March 04, 2016


And when you get blue 
And you've lost all your dreams
There's nothing like a campfire 
And a can of beans


Tom Waits [*]

Wednesday, February 24, 2016

brittle bones

hey Lucinda, 
you come out drinking with me tonight
the summer is almost gone and soon
the path that leads to your house 
will be a treacherous with the frost 
and I'll make it last in this cold, alone at night

'I could drink all this body could hold
but for the fear I might fall over 
and break these brittle bones
and these dirty little cigarettes we smoke
and the liquor it just throws a cloak over the feelings we should show'

(...)

'I only dance to remember
how dancing used to feel'



[aqui]

Wednesday, February 17, 2016

Desde então a infância de Farida ficou órfã. Ela cresceu, acarinhada por si mesma, na infinita espera de sua mãe.


Mia Couto, Terra Sonâmbula

Thursday, February 11, 2016

"a little drop of poison in a red red blood"


she needs a way to turn around the bend
she said I wanna walk away and start all over again

there are things I've done I can't erase
I wanna look in the mirror and see another face
I said never but I'm doin' it again
I wanna walk away and start over again

no more rain no more roses
on my way
shake my thirst in a cool cool pond


Tom Waits [*]

Wednesday, February 10, 2016

Quero pôr os tempos, em sua mansa ordem, conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente. Acendo a estória, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo sombra sem voz.


Mia Couto, Terra Sonâmbula
S.

Tuesday, February 02, 2016


[a nossa história tem a pele frágil de equívocos e coisas que quase foram.]


Wednesday, January 27, 2016

Saturday, January 23, 2016

get out, get out, get out

das noites insones


Em ti existo enquanto personagem. Uma imagem criada pelo teu olhar inconstante, sem raízes no que disse ou escrevi, uma ideia de mim que interpretaste sem ver de facto. Não passaste da superfície, olhando-me com a retina deturpada dos fantasmas do passado que manietam e presumem o futuro. Talvez até tenhas tentado... e te tenhas distraído com o ruído dos teus próprios medos, ou pior, o ruído ensurdecedor das tuas certezas adquiridas no bingo do senso comum. Uma personagem cujo desassossego te prendia a atenção por segundos, o tempo de dizer "revejo-me em ti", nunca o tempo suficiente para olhar e ver que, afinal, um universo inteiro dentro. Nunca tempo bastante para ver que à tua frente tinhas gente e não uma entidade fictícia. Pele e sangue, não uma descrição de pele e sangue.


do incompreensível

["uma pessoa podia ficar presa nesse olhar", nunca percebi... ficou-me gravada a surpresa na tua voz, é tudo.]

Wednesday, January 20, 2016

estarei aqui ainda ou não existo mais porque a chuva acabou (...) não contava que o mundo se evaporasse assim.


António Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
[daqui]

"on the road you didn't say a word for hours to fit the mood, to fit the mood"


It sends a chill through me when you look at the stars and say:
"You all are behaving like your blood is the same as my blood." 
But you let the world stop trying 
and you let the world stop trying 
you let the world give up 
and my blood runs against that kind of blood 

Nobody tries that hard anymore 
Nobody tries that hard anymore 
Nobody tries that hard anymore 
Nobody tries that hard anymore 
Anymore



Jason Molina [*]

Thursday, January 14, 2016

das pessoas que não se enganam e raramente têm dúvidas

"vamo-nos fazer mal" dizias tu, nunca um... "tenho receio que nos magoemos".
Como se tardasse em acontecer arregaçaste as mangas e não deixaste créditos por mãos alheias.




Nothing is better
Nothing is best.
We are unhappy
We are unblessed.
We are unfound.
We are unseen.
Nothing is coming.
Nothing is clean.
Earth it is shaking, people fled
and lord she is taking the eyes from the dead.
Demonised body, exorcised mind
pieces of kindness exchanged in kind.
Nothing is better.
Nothing is best.
We are unhappy.
We are unblessed.
Mind it is going.
Faith is destroyed.
It's emptiness showing god's cruelty deployed.
Lovers have left.
Friends close their eyes.
Children bereft.
We all are unwise.
Nothing is better.
Nothing is best.
We are unhappy.
We are unblessed.
We are unhappy.


Bonnie 'Prince' Billy

Wednesday, January 13, 2016


Steel on the skyline 
Sky made of glass 
Made for a real world 
All things must pass

Waiting for something 
Looking for someone 
Is there no reason? 
Have I stared too long?

You say you'll leave me
And when the sun is low
And the rays high 
I can see it now 
I can feel it die 

David Bowie [*]

Tuesday, January 12, 2016

I've looked long, I've looked far
To bring peace to my black and empty heart


Polly Jean Harvey [*]

Sunday, January 10, 2016

dificilmente a casa que se recompôs após a tempestade resistirá, de pé, ao silêncio da ausência.

Friday, January 08, 2016



[Well, take a breath, my heart, and hold your tongue 
It's just a cog in the year of all my love 
All my love]

manifesto

ignorar os enigmáticos; os poetas; os que sentem a música sem sentir o outro; os que olham sem ver; os egocêntricos.

Thursday, January 07, 2016

- Acabou a sua conferência com uma ideia muito perturbadora: a de que "tudo terminará numa única partícula, a solidão extrema".

- É mau, não é, a morte por solidão?


Gerry Gilmore, Visão nº 1192

Wednesday, January 06, 2016

[mais um dia de espera nesta existência pastosa de antecipação. 
foges como um louco e sou eu quem tem as mãos a arder.]


Tuesday, January 05, 2016

Não me encontra o que é fresco. Não me chega o ódio e a raiva animal. Perturba-me apenas o que morre na garganta, incendiando o resto do corpo.


O sono que não chega. Ou então vem carregado de ti. Tu disfarçado de outros, manténs apenas o sorriso impassível que te denuncia. Tu que já não existes e ainda ocupas espaço.


[19/09/14]

an imaginary girl, a fiction




Swing pretty girl
Swing
It ain't real anyway
Fields so blue
All drenched in red
Clouds up in the sun
I feel so dead

David Lynch

Sunday, January 03, 2016

relatório clínico

Não é mais que um músculo frouxo, desgastado pelo uso inconsequente. Disforme.
Foi passando de mão em mão na promessa de que o seu uso seria honesto, digno de um sonhador que aproveita cada momento. Correu ultramaratonas enredado em silêncios e equívocos. Quase sempre campeão da invisibilidade.
Anos de abuso fazem com que conheça bem os cuidados intensivos. A cada novo internamento a promessa de uma técnica inovadora. Sugerem-se novos ensaios clínicos... os níveis de toxicidade altíssimos em troca do alívio temporário.
Começa agora a fase do delírio. Pouco restará em breve.

Saturday, January 02, 2016

e porque vou escurecendo tanta noite cá dentro


António Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?


Friday, January 01, 2016

note to self

Merteuil - Não voltareis a inflamar o meu coração. Nem mais uma vez. Nunca mais.


Heiner Müller