Friday, January 31, 2014

Continuo a ser feita de um material que não suporta mais tempestades, por vezes, ainda rasga ao sopro de uma brisa.

xeque

(há dias que parecem existir para nos lembrar que não somos jogadores: que não soubemos apostar ou que desistimos tarde demais.)

Wednesday, January 29, 2014

wanted nothing but...



unfucktheworld - 00:00-02:30

I quit my dreaming the moment that I found you
I started dancing just to be around you
Here's to thinking that it all meant so much more
I kept my mouth shut and opened up the door

I wanted nothing but for this to be the end
For this to never be a tied and empty hand
If all the trouble in my heart would only end
I lost my dream I lost my reason all again

It's not just me for you I have to look out too
I have to save my life
I need some peace of mind
I am the only one now
I am the only one now
I am the only one now
(...)

Angel Olsen

Saturday, January 25, 2014

366 + 365

Foi uma pena não teres ficado no capítulo do memorável. Tenho até dificuldade em admitir que exististe: quase não há provas ou registo nas memórias. Não fosse pela cicatriz, seria(s) um passado sem rasto.



inbox

(And through the daily devastation
We orbit in each other's wake
And in the coldness of the station
We board the train that lovers take
But when I try to talk to her
I don't speak that language anymore)


Rowland S. Howard*

25/01/12

Wednesday, January 22, 2014

Quando apagam a luz do quarto a noite deita-se em cima do meu corpo, de mistura com os passos no corredor que se transforma num espaço infinito de ecos e, às vezes, dos pezinhos da tristeza que, não sei como, chegou ao pé da cama e pode ser que me lamba uma das mãos, cortando-me, como uma faca, o medo pelo meio, eu tão sozinho, tão indefeso, tão frágil. Serei merecedor, quando for grande, de ter comigo o sol da manhã, o cheiro do pão quente, as lagartixas no quintal? Esta tristeza, assim mansa, permanecerá comigo? Deus, faz com que eu não cresça, não tires as lagartixas nem o sol da minha vida.


António Lobo Antunes, Crónica escrita por mim hoje às onze horas quando tive 6 anos, Visão nº 1090

Monday, January 13, 2014

R.E.M. sleep

Começaram por ser violentíssimos. As minhas mãos na tua camisa verde, um verde velho, gasto. Sentia o tecido enraivecido a segurar o teu corpo enquanto as palavras de gelo se desfaziam no teu sorriso absolutamente irreal.
No verão, a luz suave através dos cortinados, numa sucessão pouco habitual de janelas. Ao cimo das escadas de madeira, relaxado, contavas na tua voz mansa, como tudo estava perfeito... não pude evitar que estas mãos te agredissem e empurrassem. Vi-te sobreviver à queda, sem um arranhão.
E agora voltas, improvável, doce, reclamando o cadáver.
A surpresa é absoluta, pelo menos a violência era compreensível.


(12/2013)

"so many lives to cross"*



*David Sylvian

Sunday, January 05, 2014

Às vezes sentimo-nos desamparados sem saber que desamparados sempre

(...)

de que serve o passado, não temos certeza se existiu ou nos deram imagens que amontoamos na esperança de conseguir o que se chama vida



António Lobo Antunes, Não é meia noite quem quer

a culpa dos trapos