“estávamos sentados à sombra dos tamarindos. ouvíamos uma voz e não sonhávamos.
nenhum de nós sabia se o sonho, ou a morte, nos conduziria a algum porto de felicidade.
não me lembro o que aconteceu a seguir.
a noite deixava-se habitar por um silêncio escorregadio.
veio-me então ao pensamento o grande porto do sul onde aportaras e dizias ter sido feliz.
as horas começaram a cair umas sobre as outras, iguais, sem frémito, melancólicas.
quando te digo que vou de novo partir, perguntas-me: morre-se porquê?
caminhamos em direcções opostas. caminhamos sem destino pela cidade. a febre aniquila-nos.
existem Índias por descobrir, no segredo da noite dos nossos desastres.
caminhamos neste espaço de penumbras e de incertezas – onde a fala já não cintila e as palavras são de cinza.”
Al Berto, Luminoso Afogado
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